entortei as linhas do tempo
Passaram os sete dias do infinito
e Deus não me palavreou
Nessa espera,
sonhei de viés
e divinizei a palavra
Como Deus sempre me desendereçou fui caindo em desabismos
desguarnecido de anjo
e em tudo quanto fui
só o demónio me guardou
Então me veio a suspeita:
Deus já não acredita em nada?·
Até que, certa vez,
um poema me rezou
e assim me confortei:
a justa palavra
talvez restaure a crença de Deus em nós·
Pedi licença à morte
Pedi perdão à vida:
mas não tive notícia
de quem eu queria me salvasse
E ainda hoje
só quem me reza:
as entortadas linhas da poesia
Mia Couto
ASSUNTOS RELACIONADOS:
António Botto
Bruno M. B. Rodrigues
Carlos Drummond de Andrade
Daniel Faria
Eugénio de Andrade
Fernanda de Castro
Fernando Pessoa
Florbela Espanca
José Luís Peixoto
Mário de Sá-Carneiro
Mário Quintana
Mia couto
Miguel Torga
Pablo Neruda
Vinícius de Moraes