há quem diga que és triste
és mal amado
mal compreendido
julgam-te murcho
sem vida
acredito que és murcho
pelo peso dos bons momentos
que a tua sombra proporciona
não dás flor
não dás fruta
não faz mal
de ti
colhem-se aquelas memórias
de boas tardes passadas
a brincar
ou a arrulhar
com aquela menina
à tua sombra
imaginaram-se universos
criaram-se personagens
inventaram-se aviões
que te sobrevoaram
e depois partiram
para outros mundos
sem sair
da tua sombra primeva
começas a secar
formigas e outros invadiram-te
consomem-te do interior
se um dia secares por completo
até nada em ti estar verde
vou olhar-te com olhos de criança
e dizer
"é uma pena"
de mãos nos bolsos
irei embora
cheio do que de ti colhi
Bruno M. B. Rodrigues
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