1 de outubro de 2012

Pai da Caloira Internada Depois de Praxe Diz que a Filha Sempre Foi Saudável




" Decorridos três dias sobre o incidente que a conduziu aos cuidados intensivos do hospital de Beja, uma jovem caloira vítima de um evento cardíaco ainda não tem diagnóstico sobre o que terá precipitado o problema, referiu a porta-voz da unidade hospitalar. A jovem está em estado crítico.
As notícias entretanto veiculadas e que faziam referência a antecedentes cardíacos da jovem foram refutadas pelo pai que, em declarações ao PÚBLICO, garantiu que a filha "era uma jovem saudável" sem outras doenças que não vulgares constipações. Tem 25 anos e é mãe de uma filha com três anos. O pai descreveu que tanto na gravidez como no parto e na maternidade "nunca foi observada qualquer anomalia no coração, nem tensão alta teve".
Questionado sobre os contornos da praxe a que a filha fora sujeita, disse desconhecer pormenores. Em conversas que manteve com ela na véspera do incidente, apenas recorda um desabafo: "As coisas estão a correr bem mas são muito cansativas." A indisposição da jovem surgiu durante a manhã do terceiro dia de praxe, refere o pai. Foi um responsável da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG) que lhe relatou a indisposição da filha, cerca das 10h de quarta-feira.
Depois de os colegas a levarem a casa, a jovem apenas lhe disse "que queria descansar um pouco" para voltar de tarde ao local da praxe, frisando que "estava a gostar do ambiente e do que estava a fazer". Em momento algum relatou ter sido molestada do ponto de vista psicológico, salientou o pai.
A mãe, avisada do que se passava, foi para casa com o propósito de fazer companhia à filha e deu com ela inanimada no chão.
Levada ao serviço de urgência do hospital de Beja, por volta do meio-dia, ficou internada nos cuidados intensivos com prognóstico "muito reservado". O pai adiantou, consternado, que a filha "está numa situação muito crítica".
O namorado da jovem destacou a alegria que "ela sentia por estar a estudar na ESTIG". Sobre eventuais manifestações excessivas dos "praxistas", disse que ela não lhe deu conta de algo que "a pudesse 'stressar' ou magoar".
Praxe suspensa
A Associação de Estudantes do Instituto Politécnico de Beja (IPB), de que faz parte a ESTIG, bem como os veteranos do curso de Gestão de Empresas que realizou a acção, garantiram, através de comunicado, que a "jovem não executou qualquer tipo de esforço físico ou foi sujeita à prática de qualquer praxe psicológica". No entanto, adiantam que a caloira "foi sempre questionada sobre o seu estado e saúde" e que esta "nunca informou que tivesse qualquer tipo de problema".
Contudo, os relatos de violência física e coacção psicológica são uma constante nas praxes realizadas por vários cursos do IPB. Sobre esta praxe em concreto, não foi possível encontrar quem descrevesse os pormenores sobre como decorreu.
Um ex-aluno da ESTIG, João Malveiro, enviou ao PÚBLICO um depoimento sobre a sua própria experiência durante a praxe a que foi sujeito no ano lectivo de 2008/2009:
"Nesse dia assisti a algumas cenas menos felizes por parte dos praxantes, desde obrigarem caloiros a partilhar cebolas como refeição, caloiros pintados com marcadores Raidex, que são utilizados em gado, constante abuso quer físico quer psicológico. Cheguei mesmo a assistir a raparigas a serem passeadas pelos praxantes com uma trela e de gatas em terreno hostil. Os caloiros neste Politécnico são sujeitos a uma pressão esmagadora por parte dos alunos mais antigos."
Num comunicado enviado pelo IPB aos órgãos de comunicação social é descrita a "consternação" que afectou "todos os responsáveis, estudantes e demais colaboradores" quando tomaram conhecimento da "doença súbita" da jovem caloira. Neste sentido, a direcção da escola decidiu "suspender simbolicamente todas as actividades integradas no período de recepção aos novos alunos". Nem uma palavra sobre os "excessos" que foram cometidos durante a praxe.
Dezenas de estudantes do IPB têm estado em vigília em frente da unidade hospitalar de Beja. "

In Público



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