9 de outubro de 2012

Joaquina Kina Tubal ao Leme do Clube Desportivo de Sobral da Adiça



   
" O Clube Desportivo Sobral da Adiça (Sobralense) tem ao leme a dirigente Joaquina Kina Tubal, 44 anos, empresária agrícola, um exemplo de devoção ao futebol e amor pelo clube da sua terra. Uma heroína!
Texto e foto Firmino Paixão
A influência das mulheres no futebol, um desporto tido como o reino dos homens, vai sendo cada vez mais marcante. Os órgãos sociais da Liga de Futebol Profissional incluem cinco mulheres. Na Federação Portuguesa de Futebol as senhoras também têm lugar na estrutura diretiva. Já o órgão distrital que tutela a modalidade não confiou a qualquer mulher nenhum dos 44 lugares que têm assento nos seus órgãos sociais, o que não impede que os seus sócios ordinários, os clubes, enveredem por essa mesma via de exclusão. E é, exatamente, de um modesto clube no concelho de Moura que vem o exemplo mais marcante. Faço um pouco de tudo neste clube, sou dirigente, lavo equipamentos, estou à porta do campo, no bar, faço o petisco para o final dos jogos, de tudo um pouco, já tenho dito aos jogadores que só me falta jogar e marcar golos diz Kina Tubal, presidente do Clube Desportivo do Sobral da Adiça.
O que nasceu primeiro, o gosto pelo futebol ou o amor pelo clube da sua terra?O gosto pelo futebol falou mais alto. Tudo começou há muitos anos; eu tinha um irmão que era guarda-redes, jogava em Ficalho, que, infelizmente, faleceu com 19 anos. Acompanhava o meu irmão sempre que podia e nasceu aí este gosto pelo futebol, depois surgiu esta oportunidade.
Então está a dar continuidade ao sonho do seu irmão?Sim, é um pouco isso, apesar de o meu irmão nunca ter jogado no Sobral. Ele gostava muito de futebol e foi isso que me deu força para abraçar este projeto. Nunca pratiquei futebol, apenas apoiava muito o meu irmão e ficou-me esta paixão por tudo o que é desporto. Às vezes sinto pena de ter nascido nesta aldeia, se vivesse noutro meio acho que praticaria desporto.
Como chegou à presidência do clube?Fui convidada por um senhor que, na altura, era treinador da equipa. Propôs-me este desafio e eu aceitei sem hesitações. Assumi logo a presidência do clube, nem cheguei a exercer qualquer outro cargo.
Não receou que o desafio fosse demasiado exigente?Senti um pouco de receio porque não sabia como é que os meus pais aceitariam isso, mas pedi-lhes a opinião e eles delegaram essa decisão na minha vontade, mas como a minha vontade era essa, então a decisão estava tomada e aqui estou. Digamos que foi um passo corajoso do qual nunca me arrependi até hoje. Tenho-me sentido bem, quando gostamos do que fazemos nada é difícil; tenho muito trabalho, mas é compensador.
As mulheres estão a invadir o desporto …
Tenho essa noção, o futebol era um desporto quase exclusivo dos homens, mas é uma modalidade onde também existe espaço para as mulheres. Não somos diferentes e somos tão capazes como os homens. Também gostava de ter aqui uma equipa feminina, mas não temos raparigas suficientes. Eu daria uma ajuda, não como jogadora, já não tenho idade, mas como massagista ou técnica da equipa.
Quais os principais obstáculos que se lhe deparam?Principalmente os de caráter financeiro, esses são os que mais me preocupam. No entanto, temos um bom apoio da Câmara Municipal de Moura, também a ajuda da junta de freguesia local, que colabora muito connosco e nos apoia, sobretudo, na cedência de transportes.
À sua volta está uma equipa de dirigentes que a apoiam?Pouco. Normalmente sou eu e o meu marido, que é o tesoureiro do clube. Temos habitualmente uma ajuda de um dos nossos jogadores que foi recentemente operado a um joelho, mas a operação não correu bem e as coisas estão complicadas. É o Nelson Candeias, que é jogador e secretário da direção. Esperamos que melhore rapidamente para voltar a dar-nos a sua preciosa colaboração. Os outros homens vêm quando podem.
E empatam mais do que ajudam?Às vezes é assim, podiam colaborar um pouco mais, mas ajudam sempre que podem e dão-me muita força para levar isto para a frente. Às vezes tenho que me impor e puxar dos galões, mesmo com os jogadores, também tenho que lhes puxar as orelhas, claro que tudo com muito respeito.
Qual foi a decisão mais difícil que tomou?Foram tantas, nem sei a que hei de escolher. Olhe, já tive que mandar alguém embora e logo a pessoa que me convidou para a presidência do clube. Mas não fazia o trabalho bem feito, era o treinador, houve um conflito entre ele e a equipa e eu tive que me pôr ao lado dos jogadores, se não eles iam todos embora e não podíamos ficar sem equipa. Mas tenho tido outros momentos muito bons.
Espera uma época de vitórias?A minha vontade é que ganhem as três equipas. Treinamos todos os dias. Entre segunda e sexta--feira, cá estou eu com o meu marido e os treinadores, e também o vice-presidente da assembleia-geral que dá uma ajuda a transportar os miúdos.
E tem projetos para deixar a sua marca …
No futebol já conseguimos inscrever três equipas (benjamins, juniores e seniores) e brevemente vamos iniciar uma classe de ginástica na Sociedade Monumental que funcionará duas vezes por semana. "

In Diário do Alentejo




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